No texto que lemos da Teoria do não-objeto, Ferreira Gullar fala sobre a questão da moldura na obra de arte, enquanto maneira de inseri-la no espaço e ao mesmo tempo separa-la desse. A simples presença da moldura já altera a visão das pessoas sobre a obra e o documentário "Modos de Ver" explora justamente a influência do contexto na percepção. Um exemplo muito semelhante é abordado, com uma obra valiosa atrás de um vidro a prova de balas.
A questão é que todo tipo de condição contribui para a interpretação pessoal. O ambiente externo, as emoções, o estado mental, a sociedade do indivíduo... E isso é perfeitamente normal, porque somos seres humanos. Mas não significa que não possamos explorar outras interpretações, porque elas também agregam valor. O documentário te provoca a entender suas condições, tomar consciência das influências que você sofre a todo momento e questiona-las.
Algumas questões:
De que diferentes maneiras somos influenciados nas nossas percepções?
Como podemos provocar novas interpretações?
Qual o papel do processo de socialização na percepção do indivíduo?
Por que nos permitimos ter nossas interpretações restringidas conforme crescemos? Ou melhor: isso realmente acontece? Ou ainda pensamos como as crianças e só fingimos que não?
Nessa atividade, exploramos as composições (essa palavra vai aparecer umas quinhentas vezes nesse post). Durante a aula fizemos fotos de composições com objetos e depois aplicamos o filtro em preto e branco. Minha primeira fotografia foi essa:
A seguir, trabalhamos com as composições do colega. Eu fiquei com a do Marcelo e a Miki pegou a minha. Fizemos réplicas das fotos utilizando objetos que conseguimos encontrar em casa, mas com pouco foco no objeto em si e maior atenção às formas e posicionamento.
A foto do marcelo Minha falsificação

O próximo passo foi trabalhar com os mesmos objetos usados para a foto da réplica e criar uma nova composição.
Depois, fizemos mais uma composição, dessa vez colorida. Os objetos usados foram os mesmos que apareceram nas tentativas anteriores. (Dei azar de usar muitos objetos transparentes e as cores fizeram pouca diferença na minha foto)
Por fim, a última composição foi uma colagem digital usando o Photoshop. As facas na foto que eu tirei fazem um jogo também com a perspectiva e eu queria explorar isso. Fiquei muito na dúvida de como compor a nova imagem. Meu namorado (bendito seja), me ajudou a quebrar a cabeça e trouxe a ideia de associar as facas à escadas, como no quadro "Relatividade", de Escher. Então o resultado foi uma composição surrealista.
Para a segunda rodada do Objeto Interativo, meu grupo decidiu manter as mesmas diretrizes e criar novas versões dos objetos com base nos comentários dos professores.
Lembrete de quais eram nossas diretrizes:
Nossas diretrizes
Objetivos:
Provocar os sentidos e utilizar texturas diferentes Mudar a perspectiva da visão sob o mundo Explorar a limitação da visão através da interação do objeto com o meio Meios:
Espécie de óculos com várias lentes Sobreposição das lentes e capacidade de mixar
|
Eu escolhi manter as mesmas opções de lentes e alterar a forma do objeto. Uma das sugestões feitas durante a aula foi "Abstrair da forma do óculos" e eu foquei nessa alteração, uma vez que o meu objeto era o que mais se parecia com um óculos em comparação ao grupo.
O resultado foi essa tiara esquisita que tem uma antena frontal para segurar as lentes.
A nova forma ficou mais divertida e meio parecida com um equipamento de alienígenas em filmes. Também permitiu maior flexibilização às lentes, que agora podem ser combinadas de maneiras diferentes em cada olho. No entanto, acho que o suporte na cabeça deixou a desejar. Ele ficou mais bambo que a forma do objeto anterior, o que compromete a mobilidade pelo ambiente para poder explorar com as lentes.
Antes de fazer essa nova versão alienígena, eu fiz alguns testes para aprimorar a versão anterior justamente na questão do suporte melhor. Vou deixar uma fotinha aqui só para ficar registrado e o trabalho não ter sido em vão. Não usei essa versão porque o campo de visão ficou limitado, já que o espaço das lentes era pequeno e a borda de papelão bem grande. E também, ele ainda se parecia muito com um óculos normal.
Então, a solução final foi a alienígena e eu gostei bastante dela. Abaixo seguem dois vídeos com demonstração da interação. (Obs: é permitido elogiar meu gosto para músicas nos comentários)
Para esse trabalho, fomos divididos em trios durante a aula com a finalidade de discutir algumas ideias com os colegas para o objeto interativo. Eu, a Maria Clara e a Beatriz Martins integramos o grupo 4.
Nós decidimos fazer um objeto que provocasse os sentidos, estimulando novas perspectivas. Pensamos em algumas possibilidades que explorassem texturas diferentes ou que unissem mais de um sentido. Acabamos nos decidindo por visão e tato, que são os sentidos mais fáceis de serem atingidos por um objeto. Agora a questão era: como estimular a percepção visual?
Nossa ideia surgiu na forma desse óculos meio canivete suiço, com várias lentes. Cada lente é diferente e oferece uma nova visão do mundo. Elas também são de materiais diferentes, para estimular o tato. As lentes podem ser combinadas de diversas maneiras, criando novas possibilidades.
Nossas diretrizes
Objetivos:
Provocar os sentidos e utilizar texturas diferentes Mudar a perspectiva da visão sob o mundo Explorar a limitação da visão através da interação do objeto com o meio Meios:
Espécie de óculos com várias lentes Sobreposição das lentes e capacidade de mixar
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Nosso foco foi direcionado para as lentes diferentes mais do que para o formato do objeto. Eu escolhi fazer um modelo de óculos convencional com papelão, que segurasse as lentes presas na lateral por uma agulha. Fiz duas lentes com celofane colorido, uma com uma redinha amarela e outra toda preta.
Meu irmão serviu de cobaia para o vídeo:
Fotos da minha gata com as lentes na câmera (infelizmente bem embaçado porque meu celular não quis focar direito):
Mais algumas fotos do óculos:
Essa é a última rodada de refinamento do objeto de corte e dobra.
Discutimos os trabalhos anteriores em sala para propor melhorias e nessa última rodada fizemos as novas fotos considerando as observações feitas anteriormente, como enquadramento e composição.
Para a apresentação, todos os alunos compartilharam suas fotos no google slides conjunto, cada um com o seu slide e podendo diagramar como quiser.
Depois de fazer a leitura do texto Teoria do Não-Objeto, de Ferreira Gullar, escolhi alguns trechos para serem ilustrados com imagens.
Composição com grande plano vermelho, amarelo, preto, cinza e azul. 1921 - Piet Mondrian
"O problema que Mondrian se propôs não podia ser resolvido pela teoria. Se ele tentou destruir o plano com o uso das grandes linhas pretas que cortam a tela de uma borda a outra — indicando que ela confina com o espaco exterior — , ainda essas linhas se opõem a um fundo, e a contradição espaco-objeto reaparece. "
Meules. 1890 - Claude Monet
"A tela em branco, para o pintor tradicional, era o mero suporte material sobre o qual ele esboçava a sugestão do espaço natural. Em seguida, esse espaço sugerido, essa metáfora do mundo, era rodeada por uma moldura cuja função fundamental era inseri-lo no mundo. Essa moldura era o meio-termo entre a ficção e a realidade, ponte e amurada que, protegendo o quadro, o espaço fictício, ao mesmo tempo fazia-o comunicar-se, sem choques, com o espaço exterior, real."
Merzbau (Casa Merz), 1923. Hannover, Alemanha. - Kurt Schwitters.
"Quando mais tarde o dadaísta Kurt Schwitters constrói o seu Merzbau — feito com objetos ou fragmentos de objetos achados na rua — ainda é a mesma intenção que se amplia, já agora livre da moldura, no espaço real. Nessa altura, a obra de arte e os objetos parecem confundir-se."
Dual Form with Chromium Rods. 1946 - László Moholy-Nagy
"A base que equivale na escultura à moldura do quadro — fora eliminada. Vantongerloo e Moholy-Nagy tentaram realizar esculturas que se mantivessem no espaço, sem apoio. Pretendiam eliminar da escultura o peso, outra característica fundamental do objeto. E o que se verifica é que, enquanto a pintura, liberada de sua intenção representativa, tende a abandonar a superfície para se realizar no espaço, aproximando-se da escultura, esta, liberta da figura, da base e da massa, já bem pouca afinidade mantém com o que tradicionalmente se denominou escultura."
Sem título, Amilcar de Castro, 1979
"[...] se conclui que a pintura e a escultura atuais convergem para um ponto comum, afastando-se cada vez mais de suas origens. Tornam-se objetos especiais — não-objetos — para os quais as denominações de pintura e escultura já talvez não tenham muita propriedade."
Nature morte avec melon. 1872 - Claude Monet
"Um objeto representado é quase-objeto: é como se fosse um objeto: ele se desprende da condição de objeto, mas não atinge a de não-objeto: é, com referência ao objeto real, um objeto fictício. O não-objeto não é uma representação mas uma presentação. Se o objeto está num extremo da experiência, o não-objeto está no outro, e o objeto representado está entre os dois, a meio caminho."
Quadrado Preto. 1924 - Kazimir Malevich
"[...] a figura do objeto já não aparece em seus quadros, mas, para Malevitch, o quadrado preto sobre fundo branco é a "sensibilidade da ausência do objeto" e, para Mondrian, as verticais e horizontais exprimem o conflito fundamental da natureza. Noutras palavras, essas formas e linhas geométricas substituem ali os objetos, são uma alusão extrema a eles."
Exposição Lygia Clark – The Abandoment of Art, 2014 – MoMA
"No não-objeto, por nao se por o problema da representação, o da figura-fundo também nao se põe. 0 fundo sobre o qual se percebe o não-objeto nao é o fundo metafórico da expressão abstrata, mas o espaço real — o mundo. [...] Nascendo diretamente no e do espaço, o não-objeto é ao mesmo tempo um trabalhar e um refundar desse espaço: o renascer permanente da forma e do espaço. Essa transformacao especial é a própria condição do nascimento do não-objeto."
Contra- Relevo de Canto. 1914 - Vladimir Tátlin
"[...] os contra-relevos de Tatlin, as arquiteturas suprematistas de Malevitch estão fora das definições do que seja pintura, escultura, arquitetura. O mesmo se dá com os trabalhos do grupo neoconcreto e daí o nome de não-objeto. "
Máscara Abismo com Tapa-olhos. 1968 - Lygia Clark
"Diante do espectador, o não-objeto apresenta-se como inconcluso e lhe oferece os meios de ser concluído. O espectador age, mas o tempo de sua ação não flui, não transcende a obra, não se perde além dela: incorpora-se a ela, e dura. A ação não consome a obra, mas a enriquece: depois da açãoo, a obra é mais que antes [...]"
Nesse trabalho de pesquisa, a turma foi divida em grupos e cada grupo recebeu 3 fotógrafos para pesquisar sobre e escolher algumas imagens interessantes para apresentar aos colegas.
Integrantes do grupo 3: Gabriela Lima, Vitória Caneloi, Marina Rizzo, Miki Takaesu, Raquel Motta e eu. Ficamos responsáveis pelos seguintes fotógrafos: Wilson Baptista, Man Ray e Shinichi Maruyama. Cada uma de nós pesquisou individualmente as fotos que mais nos agradavam e depois fizemos uma votação para escolher as melhores a serem apresentadas.
Wilson Baptista
Sombra (Parque Municipal) – 1936
A fotografia “Sombra (Parque Municipal)”, de 1936, revela o olhar único de Wilson Baptista, muito caracterizado pelo uso estético do contraste entre luz e sombra. O interessante na imagem que escolhemos é que a captura de Wilson, de acordo com as sombras formadas no chão, faz parecer que há “outro homem” caminhando pelo mesmo percurso, mas em um plano invertido. O uso genial do fotógrafo da sombra faz com que o observador possa enxergar, além do homem real andando pela passagem de pedra do parque, a figura de “um homem de sombra andando por um caminho de sombra”.
Praça Sete de Setembro - 1939
Wilson Baptista foi um fotógrafo importante para a história de Belo Horizonte, uma vez que seu trabalho retrata a evolução da cidade e atribui a ela um olhar afetuoso, poético e nostálgico.
Várias de suas fotografias formam uma narrativa histórica de Belo Horizonte e muitas estão focadas na Praça Sete e seus entornos, o que faz desse lugar muito adequado para a exposição.
A foto que escolhemos mostra justamente a praça sete vista de cima e é interessante observar as mudanças ao longo dos anos e como na época de Wilson a fotografia passava uma impressão totalmente diferente. Hoje, é um registro nostálgico do passado e evidência da modernização. É possível identificar os trilhos dos bondes, o contorno agradável das árvores e o traçado urbano da cidade que apresentam uma Belo Horizonte menos caótica e ainda dentro da expectativa da cidade planejada.
Man Ray
Rayograph (The Kiss) - 1922
"The Kiss" é um dos Rayogramas de Man Ray. Rayograma é um técnica fotográfica que não utiliza câmeras; nela, os objetos são colocados diretamente em um papel fotossensível e depois expostos à luz. Para criar esta imagem em particular, Man Ray transferiu a silhueta de um par de mãos para o papel fotográfico e, em seguida, repetiu o procedimento com um par de cabeças.
Este método existe tecnicamente desde o início da fotografia, mas Man Ray foi o primeiro a reaproveitá-lo para as belas-artes.
Nós escolhemos essa imagem por possuir uma composição interessante e por ter chamado atenção ao causar dúvida em relação a como foi feita.
Le Violon d'Ingres (Ingres's Violin) - 1924
"O Violino de Ingres" foi inspirada em Jean-Auguste Dominique Ingrés. É possível notar esse inspiração pela posição da modelo que remete às suas pinturas e à atração do pintor pela música, representado pela temática do violino. A fotografia mostra Kiki de Montparnasse, cantora, pintora, modelo e amante de Man Ray, sentada de costas com o desenho de aberturas acústicas de violino na região do afinamento da cintura. Esses símbolos foram adicionados a uma primeira fotografia, com lápis e nanquim, e, depois, fotografou-se o todo, dando origem ao resultado final. Essa obra é uma das anunciadoras do movimento surrealista, lembrando que Man Ray foi dadaísta e surrealista.
Um último detalhe: o fato de o corpo da mulher ser representado como instrumento de música representa uma tensão entre a objetificação e a apreciação da beleza feminina, porque um instrumento musical só ganha vida quando tocado, ou seja, há uma menção da mulher como algo a ser tocado, mas a fotografia também representa a apreciação do corpo e da silhueta feminina.
Shinichi Maruyama
Nude #12, 2012
A fotografia "Nude #12" faz parte de um compilado de fotos, intitulado "Nude Pole Dancer", ao qual fazem parte imagens de mulheres apenas com saltos altos, fazendo manobras no poste do Pole Dance.
Escolhida devido à sua beleza e peculiaridade, a imagem capturada pelo artista destaca o corpo humano e seu movimento, que nesta fotografia foi criado pela bailarina de saltos brancos. O artista, para conseguir a imagem final, combina 10.000 fotos da dança, juntando momentos individuais ininterruptos e, consequentemente, criando algo diferente do que já existe, que possibilita, segundo Shinichi, a conexão com a percepção humana da presença na vida.
Milford Sound
“Milford Sound”, fotografia produzida por Shinichi Maruyama, apresenta um arco íris traçando uma faixa na cachoeira, destacando então seus formatos, caminhos e as perturbações feitas pela água ao cair. Nela e em outras de suas obras, ele usa o fenômeno da refração e difração de luz (neste caso a luz do sol) para que as formas e cores surjam entre as gotículas de água. Para Shinichi, um corpo de cor que aparece quando é acrescentado luminosidade a uma gota de água lembra algo como uma escultura feita de luz, por isso esse trabalho é chamado Light Sculpture Taki, traduzida como escultura de luz na cascata.
Nessa atividade, fomos orientados a refazer o exercício anterior do objeto de papel, considerando as observações feitas pelos professores em sala de aula.
Eu tentei valorizar mais as sombras, mostrando não o objeto como um todo mas sim seus ângulos e posições para conseguir explorar as variedades da sombra conforme os pontos focais de luz. Não intencionalmente, as duas sombras formadas nos dois opostos de luz (luz acima e luz por baixo) são bem diferentes. A luz de cima chega a formar um bonequinho e a luz por baixo faz a sombra parecer monstruosa.